I NOMES DE FAMÍLIA GALEGO-PORTUGUESES. LINHAGENS GALEGAS
- 1. 1 A língua galego-portuguesa tem, como principalíssima representaçom a nível mundial, o acervo de apelidos ou nomes de família nascidos no seu seio e do seu génio específico. De diversa origem, os nossos nomes derivam, fundamentalmente, como em todo o ocidente europeu, da patronímica e da toponímia e, em proporçom menor, de outras fontes (de ofícios, de características pessoais físicas ou morais, do mundo vegetal, etc.), podendo afirmar-se que, muito além do biológico, qualquer indivíduo nom galego apelidado, por exemplo, Quiroga (mesmo se de raça africana ou ameríndia fosse, nom descendente geneticamente de galego algum) será galego linguisticamente considerado, pois que ostenta um nome nascido na Galiza.
- 1. 2 Por outro lado, a Galiza, topicamente qualificada como terra de emigraçom, também gozou e padeceu imigrações de toda classe. Nesse suposto, nom será impróprio considerar linhagem galega a uns determinados Alsinas argentinos, como instalados, enraizados ou nom, que estiverom neste pais do noroeste hispânico, saindo dele, ao cabo do tempo, para, num segundo assalto migratório, assentar-se em terras platenses... nom obstante ser catalã a sua origem genética e linguística (ou ancestral e cultural, segundo preferimos nós). Ora bem, para nom sermos tachados de imperialistas, é preciso perfilar os conceitos para estabelecer que o próprio é referir-se a nome galego no caso de Quiroga e a linhagem galega no caso de Alsina... deixando claro que este é apelido catalam ostentado por determinada estirpe galega (ou catalano-galega), como que foi galeguizado biológica e espiritualmente por vivência e matrimónios sucessivos.
II OS ANTROPÓNIMOS E OS SEUS VAIVÉNS
Entre os infinitos topónimos galegos (agora falamos em galegos, pois que neste ponto existem, evidentemente, os propriamente galegos, além da também evidente unidade linguística existente nas duas bandas do pai Minho), muitos som antropónimos (val dizer, pessoais), o qual é frequente nos de origem germânica (sueva), v.g. Recarey/Recarei. Fenómeno que, modernamente, proliferou nos países americanos chamados (com antropocentrismo europeu) novos, onde o homem (colonizador, fundador) tem-se passado criando toponímia a partir de si ou de sua mulher, tanta vez com a dissimuladoramente útil cobertura de um santo. Polo que, se bem se dá, geralmente o caso de topónimo europeu/galego (Queiroga/Quiroga) originando apelido e este originando topónimo americano/argentino (topónimo nome novo topónimo), também se dá o processo digamos inverso: nome suevo (Recaredo/Ricardo) originado topónimo (Recarei) que, por sua volta, dará nascimento a apelido (Recarey) todos três europeus ... Apelido que poderia, como nom, dar lugar a novo topónimo americano (nome topónimo nome novo topónimo); etc., etc.
Um capítulo sui generis deste processo antroponimizador da geografia constitui o grande parte da microtoponímia de todo núcleo humano, noutras palavras, os urbanónimos, como temos dado em chamar aqueles nomes próprios cujo conjunto conforma os nomencladores urbanos. Já nom personagens galegos, nomes absolutamente pertencentes à língua galego-portuguesa tapizam as vias dessa megalópole cone-sulina, até justificar, por esta entre outras razões, a alcunha de Buenos Aires como quinta província galega: Albarellos (Alvarelhos), Albariño (Alvarinho), Bernaldes, Baliña (Valinha), Beade, Beiró, Boedo, Burela, Carballido (Carvalhido), Cerviño (Cervinho), Darregueira (Da Regueira), Dorrego (Do Rego), Esteves, Fraga, Fragueiro, Freire, Gándara (Gândara), Lamas, Muiño (Moinho), Paz, Pereyra (Pereira), Rivadavia (Ribadávia), Varela, Vieytes (Bieites) e Vilela... e outros muitos cantam, a quem tenha o ouvido afinado, a universalidade de Galiza e da sua cultura.
III CASTELHANIZAÇOM/ARGENTINIZAÇOM DOS APELIDOS GALEGOS
Tem sido lei escrita de todo império traduzir para a sua língua topónimos e nomes-de-pia e de família forâneos, vício herdado no nosso caso polas repúblicas americanas... quando nom partira a decisom do próprio portador para evitar-se problemas. Essa castelhanizaçom/argentinizaçom pode ir do inteligente ao mais torpe, de tudo o qual há exemplos sobrados nos campos ortográfico, morfológico e prosódico, dos que damos apenas uns quantos.
- a) Cambiando (o mais frequente e fácil) o s final por z nos patronímicos (bem que esse z também foi galego-português, mas acabou sendo rejeitado pola ortografia lusa): Gomes fixo-se Gómez (o qual nem sequer fazia necessário a sesseante fonética americana). Nem mencionamos as alterações ortográficas noutros casos, como o intercâmbio b/v (v.g. Ribadávia por Rivadavia) ou s/z intervocálicos (v.g. Pazo/Paço por Paso), a tudo isso contribuindo a fonética.
- b) Eliminando os típicos ditongos ei, ou em Oliveira (Olivera), Souto (Soto) ou Outeiro(Otero). Também aqui há um problema fonético assim como o galego pronuncia claramente esses ditongos, o português, e mais ainda o brasileiro, tem-nos relaxado, limitando-se a fazer fechada a primeira vogal e ou o do ditongo; devendo esclarecer-se todavia que, na sua passagem polas Ilhas Canárias, muitos desses apelidos já sofreram castelhanizaçom, ingressando, pois, deturpados, na América/Argentina.
- c) Eliminando a maioria das partículas de, do/da/dos/das que indicavam procedência toponímica, como mal menor traduzindo-as (Dos Santos tornado De Los Santos) ou (fraca soluçom, em princípio positiva) mantendo-as mas incorporadas ao apelido (Do Rego volto Dorrego, Da Regueira escrito Darregueyra, Do Val Doval, Do Pazo Dopazo...), ou arcaico costume, semi-incorporando-as, prévia excisom da contracçom de preposiçom e artigo ( Da Cunha de Acuña, Da Costa de Acosta, Do campo de Ocampo, Do Rego de Orrego, Do Barrio de Obarrio, Da Vale de Aballe... ou Do Porto de Oporto, só no topónimo e vinho português).
- d) Cambiando o incómodo tom esdrúxulo em grave (como em Nóvoa Novoa ou Ínsua Insua), ou o agudo em grave (como em Miguês Miguez ou Casás Casas...).
- e) Simplesmente traduzindo (o que já se insinuou) com maior ou menor fidelidade ou felicidade: Da Pena De la Peña, Do Porto Del Puerto, Da Serra la Sierra... seriam boas traduções; Coelho Cuello, Da Vila Dávila... som puro dislate; Vilarinho Villarino... seria ûa traduçom regular. (Está por ver-se o De la Rua presidencial é galego ancestral ou, pola contra, tem aqui arribado de outras terras, em cujo suposto seria erro fazê-lo derivar de Da Rua... o que nom quer dizer que nom fosse, por analogia, lícito traduzi-lo para o nosso idioma... como se tem feito com alguns apelidos forâneos, nom com muitos, que saibamos).
- f) Pronunciando à espanhola, como na mesma Galiza infortunadamente acontece, apelidos como Eixo (Eijo), Sanjurjo, Seixo (Seijo) ou Tojo (obviando-se aqui a velha disputa ortográfica foneticismo vs. etimologismo).
(Cumpre aclarar que muitos destes câmbios já se deram tempo antes de ingressar o apelido na origem pola conflitiva convivência entre galego e castelhano. E também ressaltar quanto dificulta isso a identificaçom galega de apelidos assim desfigurados, particularmente no que atinge aos patronímicos: Gómez será castelhano mentres a Genealogia nom mostre que é um Gomes galego-português castelhanizado; Costa pode ser reputado catalano-aragonês entanto que a mesma ciência nom prove que dantes fora um Da Costa galego-português (que, neste caso, com a simples supressom da contracçom prévia perdeu a sua prístina carta de natureza).
Na Corunha, Dia da Galiza Mártir, 17 de Agosto de 2000.
José María Monterroso Devesa Reprodución do orixinal en ADIGAL