Resumo da conferencia de José Mª Monterroso Devesa pronunciada o martes 2 de Abril do 2002 na sede do Patronato da Cultura Galega no Uruguay, e presentada polo seu vicepresidente Sr. Nelson E. Regueiro.

APELIDOS GALEGOS EM MONTEVIDÉU: "QUIÉN TE HA VISTO Y QUIÉN TE VE"

Pretende-se oferecer umha panorámica dos avatares a que se virom sujeitos os nossos apelidos galegos e/ou portugueses ao se radicar em terras hispano-falantes: às suas muitas alteraçons re fere-se, pois, o humorístico refrám castelhano. (Para facilidade do ouvinte segue-se um ordem quasi-alfabético e umha classificaçom singela).

I. APELIDOS PATRONÍMICOS.

Merescem mençom à parte pola sua antiguidade que incidíu na sua abundáncia e vulgarizaçom) e pola sua semelhança cos doutras línguas ibéricas. Este apelidos (embora etimologicamente fossem com Z) deveriam se escrever com S final. Com Z confundem-se muitas vezes cos espanhois; assim: Dias/Díaz, Domingues/Domínguez, Gomes/Gómez, Rodrigues/Rodríguez, Sanches/ Sánchez, Garcia/García...

Hai, em cámbio, outros patronímicos genuinamente galaico-portugueses, como: Migués/Míguez (com ese troco de acento, equivalendo ao espanhol. Miguélez), ou Esteves/Estévez (Estébanez), Bieites/Vieites/Viéitez (Benítez), Pais/Páez (Peláez), Alves/Álvez (Álvarez), Rois (Ruiz), Vasques/Vásquez/Vázquez (Velázquez), Nunes (Núñez), Mendes/Méndez (Menéndez) ou Soares (Suárez).
(Por certo que coa acentuaçom há mais casos de subversom do acento. Citemos quatro proverbiais: Bértoa, Ínsua (ínsula, isla), Nóvoa e Esmorís, vulgarmente pronunciados Bertóa, Insúa, Novóa e Esmóris).

II. O RESTO DOS APELIDOS.

Por grupos e seguindo dentro deles a ordem alfabética, damos umha somera relaçom de vários apelidos galegos entre os mais generalizados no Uruguai, apontando alguns dos problemas que levan aparelhados. Muitos dos que seguem dérom lugar a nomes geográficos (topónimos) nossos.

  • II.a. O rico mundo vegetal. Abeledo e Abelenda designam o conjunto de avelairas (castelhano: avellanos, avellanal). Como estas árvores e os seus conjuntos há outros apelidos, tais como: Ameixeiras e Ameixenda (ciruelos), Ameneiro/Amoeiro e Amenedo/Amoedo (aliso, alisal); Canabal/Canaval, Caneda/Canedo, Cañás denominam um conjunto de canas (cañaveral); Carballo, Carballa e os seus numerosos derivados: Carballal, Carballeira, Carballido (en castelhano: roble de certa espécie), Reboredo, Reboledo (robledo) e Cerqueiro e Cerqueira, Cercido (todos robles e robledales castelhanos); Castañeda, Castiñeira, como Souto e os seus diminutivos: Soutelo/Sotelo e Soutullo (castañar); Cebreiro/Cibreiro e Cebral (acebo, acebedo); Cerdeira (cerezo); Codesido, Codesal (conjunto de codesos: carrascos); Figueira e Figueiredo/Figueredo, Figueroa (higuera e higueral); Filgueira e Folgar (conjunto de helechos); Freijeiro/Fregeiro e Freijal (freixeiro é fresno em castelhano e fresneda); Gesto, Gestoso, Gestal, Gestido (xesto, etc., significam ginesta ou retama e retamal, retamar ou retamosa); Landeira e Sobral (alcornoque, alcornocal); Loureiro/Laureiro e Lourido (laurel e o seu conjunto); Maceira, Maceiras, Maciñeira e Maceda (manzano e manzanal: Manzanares, embora portado por galegos é apelido castelhano); Macedo é mais português; Malvar, Malvares (por vezes impropriamente escrito Malvárez, como se fosse patronímico), Malveira e Malvido som lugares abundantes em malvas; Naveira/Nabeira (plantaçom de nabos); Nogueira e Noceda (nogal e nogaleda); Oliveira (olivo); Pereira (peral), Piñeiro e Piñeirúa (pino, pinar); Salgueiro e Salgado (sauce e saucedo); Silva e Silveira (zarza e zarzal); Teijeiro e Teijeira (tejo e tejeda, também corrompido entre nós em Tejeiro, Teseyra e até Techera), etc., etc.
    Como se vê som bem numerosos os apelidos galegos originados neste mundo vegetal.
  • II.b. E mais a variada paisagem (virgem ou tocada pola mao do home). Acosta é um típico caso de assimilaçom do artigo polo nome, procedente de A Costa (la cuesta) tem a sua variante Costa e Da Costa (de la cuesta) e o seu diminutivo em Costela/Constenla. Supostos semelhantes constitúem-nos: Acuña, Cuña, Da Cuña (tradicionalmente Cunha), Aponte, Ponte, Da Ponte (puente), etc., mas havemos voltar sobre o tema. Balboa, como Baliñas, como Doval (Do Val) está na família de Vales e Valiño e de Dobal/Dovale e Ovalle (ver párrafo anterior), e com V se deveram escrever todos; val (valle) é a raíz de todos eles e co seu duplo género (masculino e feminino),e os seus compostos (Vallebueno, também em castelhano escrito viciosamente Balbuena) e diminutivos ou assimilados já citados.
    Estas oscilaçons entre B e V sofrem-nas outros apelidos como Berdía (derivado de verde), Barcia (Várzea), Beira/Veira (orilla)... Aguiar(Aguilar) é ninho de águias, Boutureira, com esse duplo ditongo, nom é estranho que admita variados aspectos: Buitureira e Butureira, etc., e significa ninho de abutres (buitres); de tal família som os Cabreira/Cabrera (de cabras), Corbal/Corval (de cuervo), etc. Canto é um rincón ou ángulo topográfico (nada a ver co verbo cantar); Casabella é, na realidade, Casa velha (casa vieja, por oposiçom a casa nova: casa nueva); Castelo é castillo e o seu amo ou guardiám déu origem aos apelidos Castelao e Casteleiro (castellano em espanhol); Castro designa a construçom defensiva nas cuínhas dos galegos preistóricos; o seu diminutivo Castrelo também é apelido.
    De cada castro galego saíu umha família Castro e aqueles som centos e centos; Chao (llano, llanura) e os seus plurais Chans/Chás (llanos) tenhem esses equivalentes entre os apelidos castelhanos; Coba, Cobas (melhor: Cova, Covas) som cuevas. Ermida/Hermida é umha ermita; Pazo/Passo, Pazos/Passos e até Dopazo referem-se à construçom pacega rural (palacio); Couto, coa sua variante portuguesa Coito e o seu diminutivo Coitinho é um terreno acoutado (nom sendo variante sua o similar Coto, pico, cumbre, que na nossa língua dá um diminutivo muito abundante: Cotelo, e aínda Cotarelo); similar a Couto é Devesa (dehesa) e provém do latim defesa=defensa, indicando lugar defendido, acoutado, pois, e é um desses termos que coincidem em galaico-português e outras línguas, neste caso em catalano-valenciano.
    Este fenómeno dá-se com outras homonímias, só aparentes, que significam cousas diferentes, por exemplo: Golpe, em galego significa raposo (emparentado co italiano Volpe) e nom o que parece, e Cuello/Coelho é conejo e nom pescozo, significaçom esta que se deriva da clara deformaçom de dito apelido; já vimos o Canto/Docanto, rincón, e veremos Hermoso, ou Pena (que em galego mais que dor é peña)...
    Seguimos caminhando polos apelidos paisagísticos (por chamá-los dalgumha maneira inteligível) com Fraga e os seus derivados Fraguela e Fragoso (este apelido da esposa do Gral. Rivera), que significa bosque; Hermo e Hermoso (correctamente Ermo e Ermoso: veja-se como aqui um H pode trasladar totalmente o significado dumha palavra) indicam yermo, terreno improdutivo. Lamas e os seus derivados Lameiro, Lamela e Lamosa, falam-nos de barro, lodo ou légamo... do mesmo jeito que Barreira (referindo-se Barreiro mais bem ao ofício). Mato, Matos significam selva, monte (em antigo português escrito Matto, por exemplo: Matto Grosso). Medeiros som as parvas de trigo ou centeio que se formam na época da sega.
    Em Monte, Montes e os seus compostos: Monteagudo, Montelongo (largo), Monterroso (monte terroso), Montemayor/Montemaior/Montemor... o seu significado está claro pola sua mesma semalhança cos seus equivalentes castelhanos; a tal ponto que muitas vezes pode tratar-se de apelidos castelhanos, fenómeno que se observa com outros vocábulos que, já coincidem, já fórom traduzidos, como ser: Montero/Monteiro (ofício de guardamontes), Otero/Outeiro (cerro); dando-se esta perda parcial ou total de ditongos ei/ou com outros apelidos como: Lousada/Losada, Queiroga/Quiroga, Figueiroa/Figueroa, Figueiredo/Figueredo, Mosqueira/Mosquera, Souto/Soto, Soutelo/Sotelo (castellano: sotillo); Soutullo (terrivelmente deformado em Sotullo y até Sotuyo), Pousada/Posada, Veiga/Vega... Muiños som molinos.
    Ocampo vem de Do Campo e (como vimos com Acosta) ao conservar, se bem indevidamente incorporados, já o artigo (o=el), já a contracçom de preposçom e artigo (do=del), já está indicando a sua natureza galaica, da que poderemos duvidar se vemos Campo, Monte, Prado, Río ou Torre assim sós, dado que, como se dixo em falando dos montes, poderiam ser castelhanos. Rego, Orrego e Dorrego é outro exemplo do mesmo processo, embora esta volta a palavra é galega e o apelido, daquela, exclussivamente galaico, equivalendo ao castelhano riego/arroyo; cos seus derivados: Regueira, Regueiro, e as suas castelhanizaçons respectivas. Já falámos do caso Ovalle (de O e Vale com ortografia antiga escrito vale com dous L e confundindo-se co castelhano valle).
    Mais casos: Pedreira e a sua família: Pedrosa, Pedrouzo e Pena/Da Pena coa sua: Penedo, Penelas, referem-se a piedras e peñas. Velaí outra coincidéncia, esta volta co italiano, no que existe Pena com idéntico significado. Rocha (roca) refere-se aos mesmos conceitos. A propósito de Pena, dá-se na sua desfiguraçom por pretendida adaptaçom ao castelhano, umha dupla vertente: ou bem se traduz directamente a Peña; ou bem se mantém Pena e se traduz, mal, a contracçom da (de la) por de, como nos De Pena orientais de origem galega. De Ponte já falámos; Porto, Porta e Portela som puerto, puerta e portillo, referindo-se aquel ao passo entre montanhas e esta, geralmente, à "portera" ou entrada dumha finca rústica; Porta indicaria a antiga porta dumha vila (v.g. a porta da Ciudadela). Quintela é diminutivo de quinta.
    Como com Regueira passa com Ribeira, Ribeiro, Ribas... que indicam a ribeira dum rio e em castelhano e galego castelhanizado soem escrever-se Rivera, etc. Nom devendo assimilar-se a Darriba, que pode provir de D'Arriba=de arriba. De Rio temos derivados exclussivamente galegos como Rioboo (río bueno), e de Riba, Ribadeneira (ribeira do rio Neira), ou Ribadavia (ribeira do Ávia, americanizado em Rivadavia), tam extendidos como ilustres. Sá/Saa/Sas/Zas e o seu composto Saavedra (literalmente: sala vieja) referem-se a sala ou palácio ou parador de caça dum nobre.
    Seijo e os seus parentes Seijas, Seijido, Seijal... referem-se a guijarro. Esse Seixas tem-se desfigurado, por vezes, até chegar a Cejas, por assimilaçom a essa palavra castelhana; podendo esta também indicar apodo, castelhano, dum indivíduo com celhas espesas. Senra é parelho do astur Sienra e do castelhano Serna; Veiga equival a Vega; e Vila e a sua família: Vilar, Vilariño e os seus compostos Villalba (villa blanca) o Villasboas (villas buenas),som os Villa e Villar castelhanos; Vilariño tem-se traduzido demasiadas vezes em Villarino, verdadeiro híbrido que ridiculiza as duas línguas. Aqui temos outro caso de consoante dupla arcaica (como os citados Mattos e Valle), que pode indicar umha origem galaico-portuguesa e a conseguinte pronúncia de Villa como Vila; passo palpável no citado Villasboas ou no brasileiro Villalobos, que se deveram actualizar em Vilasboas e Vilalobos, e entom as prununciaríamos correctamente, respeitando a sua origem verdadeira, nom castelhana. Com Da Vila/Davila soe acontecer que o convirtam em Dávila, apelido castelhano que indica "de Ávila".
  • II.c. Outros apelidos. Outros apelidos galegos que se dam em Montevidéu e som frequentes na Galiza: Andrade (que em Portugal é Andrada), Ferreira e Ferreiro (que equival aos castelhanos Herrera e Herrero, todos relacionados com ferro, o último nomeando o ofício que com este metal trabalha); Goyanes é castelhanizaçom de Goiáns/Goiás (ver o estado brasileiro deste nome); Iglesias, mui abundante na Galiza, é, sem embargo, apelido castelhano (em galego seria Igrexa); Maroñas é topónimo na Galiza que deu origem ao apelido homónimo... que, em Montevidéu, tornou a se converter em (popular) topónimo!; Meilán também o é (fronte ao canário Melián); como Neira; Quiroga é planta e topónimo para rematar com Varela, um dos mais abundantes, típicos e ilustres apelativos nascidos na Galiza e cujo significado nom está claro, inda que filologicamente seria um diminutivo de vara (varilla em castelhano).
    Para finalizar digamos que muitos destes apelidos se difundirom tam temperámente polo mundo, que hoje (e nos últimos séculos) som levados por gentes que nom gardam (nem poderiam) memória da sua remota origem galaica: quantos Acostas, Andrades, Castros, Fajardos, Figueroas, Freires, Lemos, Magariños, Mariños, Mosqueras, Ocampos, Quirogas, Ribadeneiras, Saavedras, Sotelos ou Varelas estám neste caso! E todos eles dám fé dumha riqueza excepcional da que a Galiza e os galegos podemos estar orgulhosos de vez.